quinta-feira, 28 de junho de 2012

Orelhões com Personalidade em São Paulo

Para se lembrar das vaquinhas estilizadas coloridas na Avenida Paulista nem precisa ser Paulistano da Mooca. Os animais chamavam a atenção de qualquer pessoa seja por suas cores, seu tamanho ou a delicadeza nos detalhes. Pois bem, se as vacas já deixavam os moradores e o turistas encantados, o que dizer de orelhões fofos com tênis , boné e fones de ouvido? Não, não é piada, é só uma ação promocional da empresa de telefonia fixa da cidade de São Paulo. Um jeito descontraído, colorido e bem humorado de chamar a atenção da população para os descasos nos orelhões e para incentivar o uso dos mesmos, já que com os baixos custos dos celulares e promoções atrativas, fazer ligação de um orelhão está cada vez mais difícil.
São 100 peças reformadas em pareceria com a CowParede, batizada de CallParade a exposição vai até 20 de Junho e estão espalhadas além da Paulista pelos bairros da Vila Madalena e Pinheiros. Os artistas participaram de um concurso promovido pelas empresas que idealizaram o projeto e criaram obras incríveis que chamam a atenção do público pela beleza e pelo colorido, todo especial.
Muitos nem chegam a fazer ligação, as máquinas e celulares registram os momentos de descontração dos transeuntes que se divertem enquanto simulam a chamada.
Na capital são 48 mil orelhões, e a situação não é das melhores, pois o vandalismo e a depredação de um serviço de é de todos só aumenta os gastos com as reformas, atrasa a vida de quem tem pressa na hora de fazer ligação e deixa a cidade com ares de abandono.
É triste, mas até os próprios orelhões da exposição estão sendo danificados e depredados por vândalos, que com atos de violência, ignorância e revolta transformam a arte em objetos de suas frustrações.
Sendo uma ação de marketing da empresa de telefonia ou não, o fato é que  os orelhões deram um colorido todo especial as ruas e avenidas da capital e até 20 de junho poderão ser fotografados e vistos ao ar livre.
Como está acontecendo com orelhões, as vaquinhas da CowParade também foram alvo de vandalismo quando estavam expostas nas ruas. E vem a questão que, se São Paulo é uma capital extremamente rica em cultura e opções de lazer, porque o paulistano (uma minoria, claro) destrói com tanta facilidade algo que é para seu próprio benefício?
A arte não é apenas traços, rabisco e gotas de tintas espalhadas em uma tela branca, como algumas pessoas imaginam. A alma do artista é nata, ela transforma cores, texturas, tecidos, traços e rabiscos em verdadeiras obras de arte que servem de reflexão e admiração para pessoas de mente aberta, livre e rica.
A cultura não vem de berço, ela é uma fusão de conhecimento e um estudo sensível do cotidiano, como peças de um quebra cabeça encaixadas de forma singular, na alma de quem aprecia os dons e talentos que quem faz a arte.
A ideia de que arte não está ligada a poder aquisito, a classe social, religião ou filosofia já é bem real nos dias de hoje. Mas claro, o “ter” facilita e muito o consumo maior de produtos culturais em uma cidade como a nossa.
Por isso quando uma obra de arte acessível e rica como a de um orelhão personalizado é alvo fácil de pessoas que não se interessam, e não fazem questão de compreendê-la é de lamentar profundamente e se indignar com a tamanha falta de respeito com o outro.
Um dos orelhões na Paulista foi estilizado em forma de cérebro humano, com uma riqueza de detalhes que faz qualquer um se sentir representado ali. Talvez um  modo de falar sutilmente para o público, em uma mensagem subliminar -” me use mais. Não me deixe aqui parado, como se fosse um orelhão que não se move do lugar”.
São Paulo e os artistas que participaram do projeto com certeza agradecerão o respeito e as atitudes mais gentis. Como a velha e boa frase já diz: “Gentileza gera gentileza” – e esta por sua vez deve ser regra, quando se trata de apreciar o belo, com olhos e alma repletos de admiração.