segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ouro inédito para o Brasil


Daiane dos Santos, Daniele e Diego Hypolito e Jade Barbosa. Na última década, foram depositadas sobre eles todas as esperanças da ginástica brasileira. Em outubro do ano passado, um nome novo apareceu com força e trouxe com ele o sonho de um pódio nas não muito conhecidas argolas. Vice-campeão mundial, Arthur Zanetti se credenciou como candidato à inédita medalha olímpica brasileira na modalidade. Nesta segunda-feira, deixou a arena de North Greenwich com o ouro no peito.
Ouro de um menino que todos os dias vai de São Bernardo a São Caetano para treinar e fica com os punhos vermelhos de tanto se pendurar de ponta-cabeça. Um menino que, para economizar no gasto com aparelhos, pede ao pai para fabricá-los. Seu Arquimedes, serralheiro, produz as argolas para o filho.
Mas foi a mãe, Rosiane, quem o levou à ginástica. Um professor do colégio, impressionado com o físico do menino, indicou a Sociedade Esportiva Recreativa Cultural (Serc) Santa Maria. E dali ele não mais saiu.
Zanetti, hoje aos 22 anos, era apenas um coadjuvante na seleção comandada por Diego, Daniele, Daiane e Jade. Daniele conquistou os primeiros resultados expressivos para o país em Copa do Mundo, mas foi Daiane quem fez da ginástica um xodó. Nas Olimpíadas de Atenas 2004, favorita e ao som de "Brasileirinho", ela derrapou em um movimento e terminou em quinto. Diego, hoje bicampeão mundial do solo, sofreu uma queda em Pequim e em Londres. Jade, por problemas com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), foi cortada da equipe durante o período de treinamentos.
De 2009 para cá, Zanetti, quase desconhecido, teve resultados meteóricos. E o pontapé da carreira internacional começou ali mesmo, na arena onde nesta segunda conquistaria o ouro.
Naquele ano de 2009, o baixinho de 1,56m ficou em quarto no Mundial de Londres. Era sua primeira grande aparição internacional. Viu que era possível chegar mais longe. E optou por se dedicar exclusivamente às argolas.
No ano passado, a prata no Mundial de Tóquio ligou uma luz: se aumentasse a dificuldade de sua série, poderia se tornar imbatível. O chinês Yibing Chen, ouro em Pequim, conquistou o tetracampeonato mundial naquele campeonato com nota de partida de 6.800 e ganhou por pouco. A de Zanetti era 6.500.
Dali, Zanetti foi aos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, ainda com a série mais fraca. Levou ouro por equipe e prata nas argolas. Estava engasgado. No evento-teste de Londres, em janeiro, ganhou ouro. Mas não era o suficiente.
Em março, começou a treinar a série mais difícil. Era o único jeito de se aproximar de Yibing. Na Copa do Mundo de Ghent, na Bélgica, foi ouro com 15.925, a maior pontuação de sua carreira.
- Depois daquela nota alta, mudamos a programação, cancelamos participações em campeonatos para que ele chegasse nas Olimpíadas com aquela nota. Era importante os árbitros o verem daquele jeito - conta o técnico Marcos Goto.
Nesta segunda, 15.900 pontos foram suficientes para o ouro olímpico. Yibing, também com nota de partida máxima, fez 15.800.
- É maravilhoso. Vim pensando algumas vezes "primeira medalha do Brasil. Será que vai ser de prata, bronze?". Mas eu queria mesmo a de ouro.


[ Matéria Bacana - Reprodução na íntegra - Fonte: Globo.com]